Prefácio

As mudanças no clima modificam ambientes naturais e pressionam espécies a se adaptarem às novas condições ambientais ou alterarem sua distribuição espacial para locais mais adequados climaticamente. A identificação de locais com potencial para sustentar a biodiversidade diante das mudanças climáticas é imprescindível para o planejamento de ações de conservação e restauração.

O projeto coordenado pela The Nature Conservancy Brasil foi conduzido em colaboração com Museu Paraense Emílio Goeldi (PA), Universidade Federal do ABC (SP), Universidade Federal do Jataí (GO), Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (MS) e Universidade Federal do Rio Grande do Norte (RN). Ele teve duração de 18 meses e contou com a contribuição de mais de 40 pesquisadoras/es no Brasil, distribuídos entre 24 instituições de pesquisa, órgãos públicos e ONGs, de 15 estados do país e localizados em todos os seis biomas do Brasil.

A equipe central do projeto contou com o apoio de diversas pessoas e gostaria de agradecer à equipe do Center for Resilient Conservation Science da The Nature Conservancy, especialmente a Mark Anderson, Melissa Clark e Arlene Olivero pelo auxílio, discussões e esclarecimentos metodológicos. Um agradecimento especial à equipe de especialistas que participaram das oficinas do projeto e que contribuíram para o refinamento das análises, discussões teóricas e apresentação dos resultados.

O objetivo principal do projeto é mapear áreas resilientes, que permitam a movimentação da biodiversidade na busca de áreas mais adequadas climaticamente em um cenário de mudança climáticas. O termo áreas resilientes, neste contexto, indica locais com alta diversidade microclimática e conectividade, condições necessárias para que espécies e processos ecológicos persistam às mudanças climáticas regionais.

A metodologia proposta combina a heterogeneidade da paisagem, um representante da variabilidade microclimática, com a conectividade local, para identificar locais que possibilitem adaptação das espécies às mudanças climáticas, cujas paisagens sejam permeáveis à movimentação das espécies. O mapeamento da heterogeneidade da paisagem é baseado no meio físico e inclui variáveis relacionadas a relevo, altitude, áreas úmidas e solos. A conectividade local é baseada no contexto espacial e na resistência das classes de uso e cobertura da terra ao movimento da biodiversidade, combinando classes naturais e antropizadas com maior ou menor grau de impacto humano.

O produto resultante desse projeto é um mapa de áreas resilientes para os biomas do Brasil, que permite identificar o potencial de cada área para sustentar a biodiversidade em um clima sob mudanças. Há ainda indicações sobre aplicações para conservação considerando preservação de fragmentos de vegetação nativos, restauração de ambientes degradados e também uso sustentável e provisão de serviços ecossistêmicos entre as diversas classes de alta e baixa resiliência da paisagem.